sexta-feira, 8 de novembro de 2013

As cerquinhas brancas da amizade

   Existe algum limite entre amigos? Será possível que alguns comentários devam ser evitados, por parecerem constrangedores, mesmo diante daquelas pessoas onde a intimidade parece constante?

   Um dos principais motivos que levam grandes amigos a se afastarem é o início de namoro de um deles, principalmente, quando o outro não vai com a cara da pessoa que o amigo namora.

   Se a amizade for entre um homem e uma mulher, acredito que o caso é ainda mais complicado, uma vez que existe uma rivalidade natural. Contudo, creio que não haja diferenças significativas na amizade entre mulheres para amizade entre homens. A questão é: Pode-se ser realmente sincero sobre o que acha da namorada (o) do amigo (a), mesmo que essa opinião não seja das melhores, sem o risco de estremecer a amizade?

   Dizem que os melhores amigos são os únicos que possuem o pleno direito de serem plenamente sinceros, mas, na prática, a coisa é bem mais complexa.

   Há de se lembrar que toda sinceridade vem com um preço e, se tocarmos em uma ferida do referido amigo, pode ter certeza que o comentário ficará ecoando durante muito tempo, ainda que ele disfarce com um sorriso momentâneo. Verdades, ditas em um contexto jocoso, podem, a princípio, parecerem inofensivas, mas costumam ser as mais cruéis, responsáveis pelos maiores momentos de reflexão. Em algum instante, com certeza, explodirão e podem desencadear uma discussão  crônica, a mais perigosa de todas.

   Sim, amigos devem ser sinceros um com o outro, mas é necessário um certo limite. Seres humanos repetem constantemente que não nasceram para serem uma ilha, mas, na realidade, o são. Internamente, todos estão sozinhos. E é justamente nessa solidão eterna que os maiores conflitos são postos na mesa e analisados. O verdadeiro amigo sabe quando pode invadir esse espaço ou quando deve sorrir, fingir que está tudo bem e jogar conversa fora.

   Nunca mentir. Às vezes, omitir. Sempre falar a verdade, quando lhe for perguntado.

   No fim das contas, quando for dizer algo, é sempre bom lembrar a conhecida história dos três filtros de Sócrates. Para quem não conhece, deixo abaixo. Para quem já conhece, nunca é demais recordar.

TESTE DOS TRÊS FILTROS:


“Na Grécia antiga, Sócrates (469 – 399 ac) era um mestre reconhecido por sua sabedoria. Certo dia, o grande filósofo se encontrou com um conhecido, que lhe disse:

- Sócrates, sabe o que acabo de ouvir sobre um de seus alunos?

- Um momento, respondeu Sócrates. Antes de me dizer, gostaria que você passasse por um pequeno teste. Chama-se ‘Teste dos três filtros’.

- Três filtros?

- Sim, continuou Sócrates. Antes de me contar o que quer que seja sobre meu aluno, é bom pensar um pouco e filtrar o que vai me dizer. O primeiro filtro é o da verdade. Você está completamente seguro de que o que vai me dizer é verdade?

- Bem, não… Acabo de saber neste mesmo instante…

- Então, você quer me contar sem saber se é verdade? Vamos ao segundo filtro, que é o da bondade. Quer me contar algo de bom sobre meu aluno?

- Não, pelo contrário…

- Então, interrompeu Sócrates, quer me contar algo de ruim sobre ele que não sabe se é verdade? Bem, você pode ainda passar no teste, pois resta o terceiro filtro, o da utilidade. O que quer me contar vai ser útil para mim?

- Acho que não muito…

- Portanto, concluiu Sócrates, se o que você quer me contar pode não ser verdade, pode não ser bom e pode não ser útil, para que contar?”

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